Marcia Theóphilo

O início de uma aventura que dura até hoje

Marcia Eliete Theóphilo, 72 anos
Musicista

Aos 72 anos Marcia diz que aprendeu a tocar viola caipira aos 59 anos. Na época, ela fazia parte de um grupo de violão do SESC e tem uma filha que é da área da música. Sua filha comprou uma viola caipira, aprendeu a tocar sozinha e perguntou à Marcia: “mãe, por que você não compra uma viola para a gente tocar e cantar juntas?”. Nesta mesma época, Márcia se inscreveu na ULM, Universidade Livre de Música Tom Jobim e foi aprovada. Ela diz que estava no limite da vida, porque já estava com 59 anos, havia criado 4 filhos, e tinha a sensação de que, se fosse aprovada, sua vida mudaria radicalmente. E esta sensação se comprovou.

 

Ao ser aprovada, ela conheceu um professor que também era maestro da Orquestra Paulistana de Viola Caipira, e assim que as aulas começaram, ele a convidou para conhecerem Orquestra. Márcia, que mora em Moema, pensou que jamais atravessaria São Paulo pra ir até a sede da Orquestra, e diz que “só queria aprender a tocar viola”. No final, as coisas foram acontecendo, e em agosto houve um concerto na Sala São Paulo, onde Marcia estreou. Segundo ela foi algo inusitado, pois jamais imaginou que aquilo fosse acontecer em sua vida.

 

Conta que foram inúmeros desafios para aprender, porque não era fácil e a escola é muito exigente. Além disso, enquanto Marcia aprendia e tocava, tinha que enfrentar incompreensão dentro da própria família. Apesar desse momento difícil, ela considera esses dias como um presente de Deus. Então, resolveu abraçar, ir à luta. “Fui ensaiar, entrei na sala, só tinha homens e pensei: Marcia, o que você está fazendo aqui?”, no início se intimidou; no fim, a persistência de Márcia se tornou uma questão de honra.

 

Qualquer problema que acontece em sua vida, Marcia se concentra em sua viola,  esquece de tudo, sente a vida no ritmo e é sua forma de meditação. Enquanto está tocando, alimenta sua própria alma, mas também está treina sua cabeça: “Márcia, olhe você, olhe sua técnica, olhe seu dedo, é algo extraordinário!”.

“Fui ensaiar, entrei na sala, só tinha homens e pensei: Marcia, o que você está fazendo aqui?”.

Marcia conta que uma vez estavam tocando na Embrapa, em Brasília, estavam todos no camarim, estava rodeada de homens, apenas ela de mulher, até que o maestro a perguntou: “Dona Marcia, a senhora imaginou alguma vez que estaria aqui, para se apresentar neste palco tão importante?” e Marcia respondeu: “realmente não, mas você também nunca imaginou que teria uma senhora no seu grupo”, conta de forma bem humorada.

 

Sua vida mudou depois que começou a tocar viola, aceitando todos os desafios, atividades, tarefas, e até mesmo se produzindo, para se sentir ainda mais bonita, principalmente quando está nos palcos. “Eu me sento na frente e  estou ali porque estudo bastante. Porque estou junto com aquela meninada, que é muito boa”.

 

Ao falar de aposentadoria, Marcia comenta que não pensa sobre isso. A viola chegou para ela em um momento em que muitas pessoas estão estagnadas, assistindo televisão, enquanto ela pegou seu instrumento e foi à luta, com bastante trabalho. Agora levanta cedo, chega em casa de madrugada de viagens, e considera algo extraordinário. Ela acredita que Deus deu a ela esta oportunidade, este presente, e ela o agarrou com todas as forças, diz que, enquanto lhe for permitido, estará nos palcos. C Estará com sua viola nos palcos com 80, 90 anos, a idade não importa.

 

Aos mais velhos, ela sugere que aprendam a tocar um instrumento, a viola, porque sempre há espaço para as pessoas de sua idade. E ela afirma ser gratificante quando sua família está presente, assistindo seus concertos, se inspirando em sua história de vida. Ela acabou se tornando uma referência, uma inspiração para netos e amigos. E finaliza: “se eu consegui, qualquer pessoa pode. Fica o desafio para aprender a tocar um instrumento e eu indico a viola, porque não existe melhor!”.

Outras pessoas que você deveria conhecer

Assitir Video
A+ A-